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Conhece Joel Santos, o nosso Embaixador Open World

A momondo acredita num mundo mais aberto e tolerante, onde há espaço para todos. Viajar leva-nos a conhecer pessoas novas, bem como lugares, sons e sabores que desconhecíamos. E tudo isto muda quem nós somos e a nossa forma de ver o mundo para sempre.

Um dos nossos principais objetivos é contribuir para um mundo mais aberto através das viagens. Neste caso, por meio dos olhos e da lente do Joel Santos, que se juntou a nós como Embaixador Open World para Portugal.

O percurso do Joel Santos levou-o a colaborar com a Canon, a National Geographic, o The Guardian e a SIC, com a VISÃO, o Courrier Internacional e muito mais. É também autor de 9 livros acerca de fotografia.

Conversámos com o Joel antes da aventura que se segue, em África, para conhecermos melhor as suas fotografias e viagens.

Com o John, um pescador Ashanti, no lago sagrado Crater Lake (Bosumtwi, Gana).

Com o John, um pescador Ashanti, no lago sagrado Crater Lake (Bosumtwi, Gana). @joelsantosphoto

Joel, sabemos que viajas bastante pelo mundo todo. O que é que te move?

Eu sou movido pela pura curiosidade de conhecer pessoas e locais diferentes. Quando viajamos e saímos da nossa zona de conforto, os nossos sentidos ficam alerta e cada experiência é absorvida pela nossa mente com uma intensidade muito superior ao normal, um processo que se torna viciante, no sentido em que nos permite crescer enquanto pessoas e aprender com base em realidades que são distintas da nossa.

No meu caso, essa curiosidade surge aliada à paixão pela fotografia, pois acredito que o ato de criar — seja através de uma imagem, de um livro ou de uma música — é um dos principais propósitos da nossa vida.

Ao criarmos, estamos a gerar e a transmitir conhecimento, sendo este o verdadeiro pilar da humanidade, sobre o qual as gerações futuras construirão o seu caminho.

Paralelamente, a felicidade, o amor e a valorização da diversidade humana são outros aspetos que considero fundamentais à nossa existência, sendo que todos eles surgem amplificados quando desbravamos o desconhecido. Creio que tudo isto está escrito no nosso ADN, sendo que, no meu caso, os genes da curiosidade e da inquietude estão particularmente ativos.

Quais as lições acerca do mundo e de ti mesmo que a vida na estrada te ensinou?

A vida na estrada mostrou-me que raramente estamos corretos acerca da nossa visão sobre a vida, sobre o que é certo ou errado. Somos muito condicionados pelo nosso contexto quotidiano, cultura enraizada e experiências passadas, pelo que corremos o risco de assumir que a nossa perspetiva sobre qualquer tema é a mais correta.

No entanto, o contacto com outras pessoas, crenças e estruturas sociais mostra-nos de uma forma clara que temos sempre muito a aprender e que essa aprendizagem nos faz crescer de uma forma única. Tornamo-nos mais fortes, mais tolerantes e mais capazes de vencer certos desafios, algo que, por sua vez, podemos passar às pessoas que nos rodeiam para que, em conjunto, possamos ser melhores.

Há um mundo de conhecimento à nossa espera, pelo que, quanto mais longa for a nossa jornada ao longo dessa estrada, mais iremos ganhar e partilhar com esse processo.

Que viagens estão no teu radar para os próximos meses?

Para ser honesto, o mundo inteiro está no meu radar. No entanto, como o tempo é limitado e a eficiente gestão dos recursos imperativa, a verdade é que já tenho planeados os próximos 6 meses, sendo que deverei passar pelo Niger (projecto pessoal sobre tribos), Gana (projecto com uma ONG portuguesa e norte americana sobre crianças resgatadas), Guatemala (viagem fotográfica centrada nas crenças locais e nos vulcões), Costa Rica (viagem fotográfica sobre vulcões e vida selvagem) e Açores (viagem fotográfica centrada na natureza).

Os restantes destinos serão uma surpresa, mas deverão estar localizados na Ásia.

Nas profundezas do Norte da Mongólia, entre o povo Tssatan e as suas renas.

Nas profundezas do Norte da Mongólia, entre o povo Tssatan e as suas renas. @joelsantosphoto

Como decides quais os destinos que vais visitar?

A maioria dos destinos são decididos com base nas minhas paixões pessoais: as pessoas e as paisagens naturais remotas. No caso das pessoas, procuro histórias que estejam por contar, sobretudo as centradas em culturas e/ou atividades tradicionais que estejam em profunda alteração ou mesmo desaparecimento eminente. Assim, tenho concentrado as minhas viagens em países como a Mongólia, a China, a Etiópia, o Gana e a Índia, países sobre os quais tenho conseguido documentar histórias inéditas, algumas das quais contribuíram para ter merecido a distinção de Travel Photographer Of The Year em 2016.

Já no que diz respeito a paisagens, procuro destinos em que a natureza se revele da forma mais pura e crua, com particular interesse em regiões com atividade vulcânica, que permitem-me realizar uma espécie de viagem aos primórdios da formação geológica da Terra. Também procuro áreas montanhosas em que os glaciares ainda subsistam, pois as alterações climatéricas estão a transformar estes locais a um passo acelerado. Exemplos destes destinos são a Indonésia, a Islândia, a Guatemala, El Salvador, a Etiópia e a Argentina/Chile (Patagónia).

Podes partilhar uma experiência fantástica em viagem?

Uma das experiências mais intensas da minha vida aconteceu quando fui documentar uma história inédita: a migração de uma família nómada cazaque, na Mongólia Ocidental, em 2015.

Visitar a Mongólia era um sonho desde 1998, altura em que fiz um voo Amesterdão – Hong Kong, e vislumbrei da janela do avião as magníficas paisagens mongóis.  O sonho foi cumprido em 2015, mas de uma forma que jamais teria imaginado.

Durante 5 dias, percorri entre 20 a 30 quilómetros a pé, seguindo a migração do gado através das estepes e das montanhas mais remotas deste país, cruzando rios, atravessando vales, vencendo o frio e o calor, sempre sem qualquer contacto com o mundo exterior.

A experiência foi tão dura que, muitas vezes, o meu objetivo era simplesmente chegar do ponto A ao ponto B, uma sensação de sobrevivência tão primordial que, na prática, me permitiu atingir a pura simplicidade de pensamentos e realinhar a minha visão sobre o que é prioritário na nossa vida.

É este tipo de experiência que, a meu ver, todos deveremos ter algures na nossa vida, nem que seja no nosso próprio país.

Consegues lembrar-te da melhor ligação pessoal que tiveste com alguém que conheceste numa das tuas viagens?

Tive o privilégio de conhecer muitas pessoas especiais, cada uma pelas suas razões muito particulares. E consegui isso porque, em todos os momentos, nunca me fechei numa bolha de proteção, muito pelo contrário, procurei ativamente o contacto com as pessoas, na expectativa de aprender com elas e de saber mais sobre os seus modos de vida, sempre com o máximo respeito e sem ter uma atitude fotograficamente predatória.

Um desses exemplos surgiu no Gana, quando consegui ser aceite por uma comunidade de pescadores do lago Bosumtwi, os quais pescam a partir de instáveis pranchas de madeira, já que o lago é considerado sagrado e seria uma ofensa tocá-lo com embarcações de metal.

Neste contexto conheci o John, um pescador de coração puro, que me abriu as portas à sua vida, mostrando-me a sua atividade e a sua vivência familiar.

Depois de vários dias de convivência em 2015, quando regressei ao Gana em 2016, o momento de reunião foi extremamente emotivo, pois nenhum dos dois sabia que nos iríamos rever.

Numa relação de pura amizade, o tempo e a distância são barreiras muito permeáveis. Mais do que picar o ponto em cada local, regressar e aprofundar relações tem um valor inestimável.

A Índia continua a fascinar-me enquanto país (Sadhur, Jaipur).

A Índia continua a fascinar-me enquanto país (Sadhur, Jaipur). @joelsantosphoto

Além de fotografar, também ensinas outros. Fala-nos um pouco da tua paixão pela partilha de conhecimento.

O meu profundo gosto pelo ensino nasceu em 2004, quando fui escolhido para dar aulas na Universidade de Economia em Dili, Timor-Leste. Sempre adorei ser aluno, mas nunca pensei em ser professor, de tal forma que esta experiência deveria ter durado apenas três meses, mas fiquei lá até ao final de 2006.

Subitamente, percebi que partilhar conhecimento é um privilégio e uma enorme responsabilidade, pois é uma forma de contribuirmos para a vida de alguém, retribuindo todas as vezes em que alguém também nos ajudou a sermos melhores pessoas e profissionais.

Esse período, 2004 a 2006, coincide com o nascimento e crescimento acelerado da minha paixão pela fotografia, uma fase em que o economista ia dando lugar ao fotógrafo/jornalista.

Foi uma fase em que, pela escassez de informação, fui obrigado a ser autodidata, com todas as dificuldades inerentes a esse processo, mas também com a clara sensação de que a fotografia dava um propósito único e especial à minha vida.

Assim, hoje em dia, ensinar fotografia, seja nos cursos, viagens fotográficas ou através dos nove livros que já escrevi, é uma forma de tentar contagiar as pessoas com esta paixão, na esperança de que a fotografia lhes dê tanta cor à vida como tem dado à minha.

A vida com os caçadores de águias na Mongólia.

A vida com os caçadores de águias na Mongólia @joelsantosphoto

 

Podes partilhar algumas dicas básicas de fotografia?

Um dos aspetos mágicos da fotografia é que ela não tem receitas, sendo por isso que se mantém sempre surpreendente.

Adicionalmente, 99% de uma fotografia deve nascer da sensibilidade única e inimitável de cada pessoa, especialmente quando esta procura ser verdadeiramente original e sair dos “trilhos” já percorridos.

Ainda assim, tentando formalizar algo que é impossível de formalizar, creio que uma “boa fotografia” deve ter, pelo menos, seis ingredientes essenciais:

1) um motivo com interesse inegável;

2) elementos de apoio que reforcem o protagonismo do motivo;

3) uma qualidade de luz que, através dos seus contrastes e cores, “desenhe” o motivo de uma forma singular;

4) uma mensagem visual que seja capaz de transmitir uma narrativa — ou seja, encadear visualmente os motivos, os elementos e a luz como se fossem as palavras de um romance, contando uma história com significado ao observador;

5) uma correta exploração das técnicas fotográficas basilares, como a profundidade de campo e uma cuidada composição visual dos motivos/elementos, de forma conseguir materializar num fotograma a imagem que foi imaginada pela nossa mente;

6) uma capacidade de gerar uma reação emocional duradoura no observador, isto é, conseguir que a imagem passe a viver na mente de quem observa de forma permanente, porventura a derradeira prova de que uma fotografia é especial..

Uma vez mais, sublinhando o facto de não haver uma fórmula para uma boa fotografia, eu diria que, sem qualquer um destes seis elementos, qualquer imagem poderia ser melhor.

O que fazes quando não estás a viajar pelo mundo?

Quando não estou a viajar, a maior parte do meu tempo é concentrado a editar/selecionar as fotografias e vídeos, a realizar cursos de fotografia, a escrever artigos e livros, a participar em palestras, e, claro, a planificar e a gerir todos os projetos presentes e futuros.

Na verdade, nem 10% da vida de um fotógrafo é passada a fotografar, pois os outros 90% são essenciais para que esta profissão seja viável. O meu maior sonho seria inverter estas percentagens, passando 90% do tempo a fotografar e a viajar, por mais gozo que todas as outras atividades também me deem.

Apesar de a mobilidade ser maior do que nunca, o nosso planeta é muito mais vasto e as histórias mais profundas do que parecem — creio que ainda estou a uns largos milhares de voos de distância dos meus objetivos, mas ainda bem que há ferramentas que me ajudam a gerir esse processo da forma mais eficiente possível.

Como o sonho comanda a vida, eu acredito que tudo seja possível, por isso já estou a trabalhar na próxima viagem.

Segue as aventuras do Joel Santos por todo o mundo e informa-te acerca da nossa visão de um mundo aberto na página  Let´s Open Our World.